Crítica Game of Thrones | Final controverso não apaga a beleza da jornada

ATENÇÃO: o texto contém spoilers da última temporada de Game of Thrones.

Ontem de noite, um dos eventos televisivos mais esperados dos últimos anos finalmente aconteceu: o último episódio de Game of Thrones foi ao ar depois de 8 anos de uma longa jornada.

O seriado, que se tornou um fenômeno mundial e cativou milhões de espectadores mundo afora, teve uma conclusão tão divisiva quanto os produtores alertavam que seria: entre aqueles que amaram a escolha de um final surpreendente e aqueles que detestaram um final conciliatório, é preciso valorizar o percurso até aqui.

Series finale

Construir um final coerente com o caos que é o mundo de Game of Thrones não deve ser uma tarefa fácil: eram muitos núcleos com interesses antagônicos, trabalhados ao longo dos anos para nunca caírem num simples "bem contra mal".

Embora tenha apresentado sim uma ameaça suprema, personificado no Rei da Noite e seus Caminhantes Brancos, a última temporada acabou por estabelece-la como um desafio secundário em relação à disputa pelo trono. Ao escolher este caminho, os produtores estavam cientes de que jamais poderiam agradar a todos: quem é que não tinha um personagem favorito pra assumir o trono?

Tendo em vista que a grande pergunta final seria "quem vai assumir o poder nos Sete Reinos?", era de se esperar que a solução não seria conquistada com sangue e fogo: essa foi a lição que, desde o começo da série, Game of Thrones vem tentando nos mostrar.

Os problemas

Tyrion

A sensação que se fica ao assistir a última temporada de Game of Thrones é de que tudo se passou rápido demais. A decisão de construir um desfecho digno para uma trama tão cheia de minúcias e complexidades em apenas 6 episódios, dos quais um deles é inteiramente dedicado a uma batalha, parece subestimar o valor da série.

O caso de Daenerys talvez seja o mais emblemático: durante 7 temporadas inteiras vemos a Targaryen ser construída como uma espécie de libertadora. Mesmo sendo implacável com seus adversários, a Mãe dos Dragões parecia ter uma bússola moral forte, que a colocava ao lado dos oprimidos.

É verdade que, desde sua ascensão como uma líder poderosa, já se falava com desconfiança sobre a loucura de seu pai e as possíveis influências que isso poderia ter na sua herdeira. No entanto, a virada da personagem foi tão repentina e superficial que desperdiça toda a construção da personalidade de Daenerys ao longo dos anos.

A mesma rapidez dos eventos também acometeu Bran Stark. Após uma jornada épica que o levou a se tornar o Corvo de Três Olhos, o personagem parece sem função durante a maior parte dos episódios da última temporada. Sua verdadeira função e seus poderes enquanto Corvo de Três Olhos nunca são de fato explicados e, na maior parte do tempo, o Stark passa ao largo dos eventos decisivos da série.

Os Méritos

Starks

Mesmo com inserido numa temporada bem abaixo do nível que a própria série estabeleceu, o último episódio conseguiu concluir com dignidade os arcos dos principais personagens. Um grande exemplo de acerto são os casos de Sansa e Arya.

Cada uma ao seu modo, as irmãs Starks cresceram muito bem ao longo de toda a série e tiveram desfechos condizentes com a natureza de cada uma: Sansa como Rainha do Norte e Arya como uma desbravadora de terras não conhecidas.

O retorno de Jon Snow para Além da Muralha é outra escolha bastante digna: mesmo com o direito de reivindicar o trono para si, essa nunca tinha sido a pretensão do personagem. Tão selvagem quanto o seu lobo Fantasma, o lugar de Snow sempre pareceu ser ao lado do Povo Livre.

Tyrion, um dos personagens mais queridos do seriado, também encerra seu arco de maneira digna: entre seus erros e acertos, o anão é reconhecido por sua defesa fiel a Westeros como um todo. É até difícil de imaginar uma conclusão que não o coloque como Mão do Rei.

O Saldo final

Final GoT

Game of Thrones chega ao final entregando uma solução coerente com a história que se propôs a contar. O desfecho não é primoroso, mas não deixa pontas soltas ou furos de roteiro e trata com respeito a maior parte dos personagens.

Corajosa ao investir em cenas deslumbrantes e efeitos visuais dignos de blockbusters, a série parece ter deixado de lado na última temporada o desenvolvimento cuidadoso dos personagens que vinha fazendo ao longo de todos esses anos. Ainda assim, não decepciona ao fazer escolhas menos óbvias para a conclusão

Embora ainda vejamos reações acaloradas por parte dos que amaram e dos que odiaram o final de Game of Thrones, é impossível de se desprezar a beleza de toda essa jornada. Com mais acertos do que erros, a série deixa um legado precioso na história, mesmo com um desfecho controverso.

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Daniel Schiavoni
Daniel Schiavoni
Prefere Rohan a Gondor, Greyjoys a Starks e Batman a Superman, mas ainda não se decidiu de que lado da Força está.