Pantera Negra é uma espécie de tragédia shakesperiana que vai além dos clichês dos filmes de origem dos quadrinhos com os quais a Marvel já nos deixou acostumados. Aqui não existem ameaças extraterrestres nem vilões narcisistas tentando destruir o planeta.
Sim, aqui continua havendo humor, ação e todas as outras conexões com o Universo Cinemático Marvel, mas existe também espaço para a diferença. Com a sua ambição estética e seus temas profundos, Pantera Negra se encaixa perfeitamente no grupo dos melhores filmes de super-heróis de todos os tempos.
Confira nossa crítica sem spoilers de Pantera Negra!
Uma homenagem à cultura africana
Pouco tempo após os eventos de Capitão América: Guerra Civil, T'Challa se torna líder de Wakanda, um reino escondido onde tecnologia avançada e tradições africanas coexistem. O filme consegue construir essa nação africana com ambientes tão bem feitos que realmente parecem um local verdadeiro. É um mundo repleto de cores ricas, com roupas e adereços tão vívidos que conseguem refletir o sentimento africano.
Em Pantera Negra, existe realmente uma sensação genuína de identidade e cultura, em que a imagética do super-herói é representada na iconografia africana que se mistura com símbolos do poder. Um dos maiores exemplos dessa representação pode ser visto no colar prateado que T'Challa utiliza para ativar o seu uniforme de vibranium.
Para complementar os visuais, podemos, também, saborear uma trilha sonora diferente de todos os outros filmes da Marvel, utilizando, como base das composições,tambores senegaleses e sons que nos fazem sentir poder.
Personagens complexos que vão emocionar
Um dos pontos fortes de Pantera Negra, é a existência de diversos personagens complexos, com quem podemos nos identificar e que nos causam sentimentos profundos.
Chadwick Boseman retorna no papel de T'Challa, um homem que já deixou de lado a sede de vingança que o possuía em Capitão América: Guerra Civil e que tenta agora liderar a sua nação de forma sábia e digna. Essa vulnerabilidade é muito bem interpretada por Boseman, que consegue fazer transparecer a insegurança de um homem escondido na sombra de um pai grandioso.
Mas este é, sem dúvida, um filme em que as mulheres lideram e moldam a história tanto quanto os homens. Em Pantera Negra, elas não são apenas quem conforta ou aconselha os homens, mas sim quem decide e luta por si mesmo.
As heroínas do filme são ferozes e inteligentes. Aliás, com as representações sólidas de Danai Gurira, como a líder das Dora Milaje, e de Lupita Nyong'o, uma espiã idealista, elas conseguem, por vezes, até roubar o protagonismo do herói principal. Além disso, uma agradável surpresa nos chega com Letitia Wright, representando a irmã caçula de T'Challa e uma gênia tecnológica.
Um vilão carismático e realista
Michael B. Jordan representa o anti-herói Erik "Killmonger" Stevens com uma performance dinâmica e realista. E este é provavelmente o vilão mais envolvente e carismático de todo o Universo Marvel. Ele é um personagem complexo, com um passado complicado e motivações realistas.
Movido por raiva e ideologia fervorosa, Killmonger é um personagem que nos faz pensar duas vezes antes de julgar suas crenças e ideias provocatórias, apesar de seus métodos atrozes. Além disso, quando um vilão nos deixa com lágrimas nos olhos mesmo após ter tentado matar nosso herói, isso é prova de que estamos perante grandes representações.
Somos todos uma única tribo
É verdade que Pantera Negra continua sendo um filme convencional de super-heróis, em que sua história segue um padrão pré-definido, chegando finalmente em um clímax onde a ação enche nossos olhos com acrobacias e explosões espetaculares. Porém, este filme é muito mais do que isso e começa uma revolução em que o público é forçado a confrontar a forma como está habituado a ver os super-heróis.
Na verdade, Pantera Negra é o filme do Universo Cinemático da Marvel mais político de todos. É, também, o mais caro a utilizar um elenco quase inteiramente negro, tocando em temas como a discriminação e o privilégio de uma forma madura.
Além disso, nos faz sentir que a linguagem cultural universal relativa à maior franquia de sempre pertence a todo mundo, sem qualquer exclusividade. E é essa capacidade de união na diversidade que torna Pantera Negra tão especial.